21/07/2012


UM SONHO CHAMADO QUERER
Haja uma manhã de sol em cada olhar acordado
sempre que cedo demais o sono seja roubado
aos olhos cansados da noite mal sonhada.
Haja arranhões em joelhos de menino
calções rasgados e bolas perdidas no quintal do vizinho
terra na cara, lama nas mãos
e um sorriso aberto de chocolate roubado.
Haja espaço no jardim
um canteiro, pouco mais
segredos de amor para semear
serenidade para contemplar, primavera adentro
o germinar e o florir.
Haja música no ar
guitarras, violinos e pianos a vibrar
pássaros a chilrear
uma chuva inesperada de melodia
que em ruas e ruelas
procure as bocas secas e fechadas e lhes ensine a cantar.
Haja um momento parado
um silêncio nocturno premeditado
agarrado a um vazio desejado
preenchido por uma luz intensa e incendiária ou 
somente por uma ténue réstia de claridade.
Haja um poema libertado
[de nada serve um poema guardado]
palavras corajosas que arrastem para longe as horas amarguradas
e acalmem a fúria do corpo a tremer
repleto de vontade de dizer.
Haja sempre uma história para contar
um livro para escrever
filhos feitos com prazer
e colo para lhes dar.
Haja um cheiro de bolo acabado de fazer
um pesado aroma de canela quente que se esgueire
pela fresta da porta entreaberta 
e se enrosque na manta de lã colorida
inventando a lareira acesa e uma linda tarde de amor.
Haja saudade
o frio melancólico da ausência
a lâmina metálica de ir e ver partir
agasalhada pela promessa de chegar e ver regressar.
Haja paixão
um afago de cuidado
coragem para ousar e resistir
ousadia de viajar sem bússola nem mapa
haja uma panela a fumegar
um horizonte acabado de desenhar
um corpo a arder
cama por fazer
haja mar e haja calor
haja sombra para repousar
haja tudo aquilo que se deseja
hoje e amanhã
haja sempre um sonho, um simples querer.


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