11/07/2012


AGARRAR AS CORES
Vi-o ao longe, braços esticados e mãos inquietas, tentando agarrar todas as cores à sua volta. Aproximei-me e disse-lhe olá. Deu pela minha chegada, ficou muito quieto, pousou em mim aqueles olhos grandes e pretos, de pestanas compridas e enroladas e, da boca de morango fechada, soltou-se de repente um sorriso grande e desdentado. Esticou-se para a frente e estendeu-me os braços. Agarrei-o com carinho, acariciei-lhe as costas mornas e derreti quando encostou a cabeça no meu ombro. Dei-lhe um beijo na bochecha quente e corada, afaguei-lhe os cabelos macios e passeei-o pelo corredor, para que bebesse com os olhos as cores que tanto queria agarrar. Voltamos ao ponto inicial passados alguns minutos. Devolvi-o aos braços da avó orgulhosa, plena de colo e palavras doces. Chama-se António, tem 10 meses – disse, adivinhando-me a pergunta. Respondi-lhe com as palavras que habitualmente se usa para descrever um bebé lindo e encantador. Soprei-lhe um beijo e disse-lhe adeus. Voltei aos meus afazeres, perseguida pelos vestígios da voz da avó, misturados com um deslumbramento que me arrepiava a pele – tem 10 meses e chama-se David.


3 comentários:

  1. E são as crianças que nos dão alento na vida...e cor...muita cor!

    :)

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    1. A inigualável ternura da infância. Tão bom...

      Obrigada pela passagem pelo meu lugar.

      Um abraço.

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  2. Estarás grávida? ....e avid seria um lino nome para um rapaz.
    Nunca pude ter filhos mas se tivesse tido uma das escolhas ia para David!
    BShell

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