SOPRO MUDO
Pedes que te explique, mas juro que não sou capaz, não sei dizer tudo isto. É uma espécie de pulsar muito violento dentro de nós, entendes? Como se tivesses dois corações no peito (o teu e outro que te nasceu, sem dares conta), batendo desenfreadamente. Sentes um impulso inevitável de inspirar com toda a força, levar ao limite a capacidade de te encheres de ar e de mundo e depois, expirar lentamente, de olhos fechados, esperando que o ar que devolves à atmosfera venha carregado das palavras que queres dizer. Às vezes, assim acontece. E é uma festa, uma festa inigualável e perigosamente viciante. Voltas a ter apenas o teu coração de sempre e é o seu ritmo tranquilo que orienta o desenho das letras com que escreves o poema. Outras vezes, nada disso acontece. Expiras, e o que sai de ti é somente um sopro mudo, insípido e estéril, uma golfada de ar gélido e cinzento. Nessas alturas, podes desenhar as letras que quiseres, encher folhas e folhas de papel com palavras alinhadas em inúmeros textos desolados (como este). Mas nunca essas palavras terão o sabor da poesia.
Que bom estar de volta para encontrar bocadinhos de beleza por aqui.
ResponderEliminarQue bom tornares este mundo mais bonito.
Beijinho
Isabel
com textos desolados também se faz poesia.
ResponderEliminarbeij