SOMBRA E POEIRA
Se te arrastares pela sombra e poeira
rapidamente o sangue te vai arrefecer.
Não tardará que o reflexo de ti que vês
no espelho
seja tão fino quanto uma folha de papel.
A mesma com que farás
com afinco e tesoura afiada
os recortes exactos
para poderes rever-te
na fileira geométrica de figuras siamesas
a óbvia sequência de todos os que poderias
ter sido
não fosse a sombra e a poeira
a que te entregaste
sem sequer questionar.
Às vezes, que em momentos de paz interna, tocamos a membrana tão somente tangível da nossa consciência de alma, e vislumbramos que nossa verdadeira natureza é plena justamente em um desdobramento de nós mesmos e do qual abrimos mão em função dos convencionais "certo e errado" e do socialmente aceito. Mas há aqueles que se "rebelam" e sacodem a sombra e a poeira que afinal escravizam e castram. Nasce a poesia, a prosa, a palavra que liberta.
ResponderEliminarSeu texto "mexeu" comigo.
Beijo.
... e os dias estilhaçados na mesmice dos espelhos...
ResponderEliminarSábias as tuas palavras... bela a tua linguagem poética.
Bjo
Ora que isto veio mesmo a calhar. Estou a sentir esta poeira a querer afincar-se em mim.
ResponderEliminarE bem visto. E bem escrito. Natureza humana aqui patente: pensa como gente serás gente, pensa como morto serás morto.
Voltarei :)
O fim de Verão traz essa nostalgia poética...
ResponderEliminarTexto belíssimo!
Beijo