18/09/2012

SINÓNIMO
Começou por ser uma constatação aterradora. No final, foi uma fantástica descoberta. Naquela noite, percebi que não tinha mãos. Foi mais ou menos assim: acordei estremunhada com um ruído qualquer e esbocei o movimento de esfregar os olhos, para clarear um pouco o olhar carregado de sono. Senti uma massa volumosa e macia a cobrir-me o rosto, o peito e os ombros. Em pânico, fiz por acreditar que estava a sonhar, mas corri para o espelho. Olhei-me e vi o que nunca pensei ser possível ver. Na extremidade de cada um dos meus braços, pendia uma enorme asa. Levantei os braços e vi-as reflectidas no espelho: duas asas brancas e macias, ondulando suavemente. Não sei como consegui mexer-me, descolar-me do chão e voltar para a cama. Mas lembro-me muito bem de me ter deitado e cruzado as asas sobre o peito. Acho mesmo que foi nessa noite que descobri (e me convenci) de que escrever é sinónimo de voar. 





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