Tem espalhado em si
o frio de um inverno inteiro
e a secura do deserto
que engoliu o último oásis que restava.
A boca desenha-se com o mesmo silêncio
de que são feitas as noites sem estrelas
e exala um hálito a flores secas e esquecidas.
O olhar é de vidro
gélido e transparente
lembrando uma janela sem cortinas
aberta para um quarto vazio
nu e desolado.
Caminha sem tocar o chão
o corpo rígido e determinado
puxado por um fio invisível
passivamente arrastado
em linha recta
por um caminho sem curvas nem surpresas.
Tem um braço erguido
e a mão aberta
num aceno mudo e parado.
Não se percebe se saúda alguém
ou se é de uma despedida que se trata
mais o mais certo
é que não seja
nem uma coisa, nem a outra
porque ela está imóvel
e há um arrepio moribundo à sua volta
acho que todos a julgam morta
mas não
não está morta
não está morta
vejo-lhe uns tímidos fios de cabelo a mexer
a dançar
com uma suave brisa que se soltou agora
pelo ar.
pelo ar.
.
Patrick John Mills
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