NÃO CHORES
Não
chores, Maria. Eu sei que dói, mas há-de passar. As aves voltam a voar, depois
de caírem da árvore. Apenas têm de ficar paradas uns momentos para recuperar da
vertigem da queda, inertes, aparentemente mortas. Mas depois, estremecem,
sacodem as asas, levantam a cabeça em direcção ao céu e saltam! Contigo vai ser
igual. Trata as feridas com doçura, massaja o corpo dorido com suavidade, deita
fora as recomendações inúteis e os remédios amargos, bebe antes um chá quente e
doce. Enfrenta com determinação o buraco que se abriu à tua frente, luta com
ele e faz-lhe sentir que é infinitamente menos importante do que tu. Ele há-de
envergonhar-se e, constrangido, tenho a certeza que se vai encolher aos poucos,
até se tornar num inofensivo grão de poeira, que hás-de soprar com força para
fora da tua vida.
Não
chores mais, Maria. As lágrimas queimam-te a pele e escurecem-te o olhar. Quem
te vê, acha que perdeste o sorriso. Mas tu sabes que ele não está perdido, somente
se escondeu de ti e acho que o fez apenas para que o procurasses. Procura-o,
então. Ele está escondido algures, em qualquer sítio do mundo, pode até ter
tido a astúcia de se esconder dentro de ti! Procura-o, encontra-o e volta a
colocá-lo na boca. Ficas muito mais bonita, quando sorris. E assim sorridente,
voltarás a acreditar que há uma estrela no céu que é só tua, que há árvores que falam com peixes que voam, que a
paixão não é uma invenção, que o amor é o fundamental e que quem te diz o
contrário apenas o faz porque ninguém lhe ensinou que sonhar é respirar.
Não
chores, Maria. Está quase a passar. Vai passar. Dorme um pouco. Arruma as
palavras dentro de ti e escreve histórias.
Fernando Botero
ohh, que querido!
ResponderEliminarÉ essa mensagem de ordem interior que arrumará a esperança. Texto belíssimo.
ResponderEliminarBeijinho