02/06/2012

NÃO CHORES
Não chores, Maria. Eu sei que dói, mas há-de passar. As aves voltam a voar, depois de caírem da árvore. Apenas têm de ficar paradas uns momentos para recuperar da vertigem da queda, inertes, aparentemente mortas. Mas depois, estremecem, sacodem as asas, levantam a cabeça em direcção ao céu e saltam! Contigo vai ser igual. Trata as feridas com doçura, massaja o corpo dorido com suavidade, deita fora as recomendações inúteis e os remédios amargos, bebe antes um chá quente e doce. Enfrenta com determinação o buraco que se abriu à tua frente, luta com ele e faz-lhe sentir que é infinitamente menos importante do que tu. Ele há-de envergonhar-se e, constrangido, tenho a certeza que se vai encolher aos poucos, até se tornar num inofensivo grão de poeira, que hás-de soprar com força para fora da tua vida. 
Não chores mais, Maria. As lágrimas queimam-te a pele e escurecem-te o olhar. Quem te vê, acha que perdeste o sorriso. Mas tu sabes que ele não está perdido, somente se escondeu de ti e acho que o fez apenas para que o procurasses. Procura-o, então. Ele está escondido algures, em qualquer sítio do mundo, pode até ter tido a astúcia de se esconder dentro de ti! Procura-o, encontra-o e volta a colocá-lo na boca. Ficas muito mais bonita, quando sorris. E assim sorridente, voltarás a acreditar que há uma estrela no céu que é só tua, que há  árvores que falam com peixes que voam, que a paixão não é uma invenção, que o amor é o fundamental e que quem te diz o contrário apenas o faz porque ninguém lhe ensinou que sonhar é respirar.
Não chores, Maria. Está quase a passar. Vai passar. Dorme um pouco. Arruma as palavras dentro de ti e escreve histórias.  

Fernando Botero

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