09/07/2012


DEIXEM PASSAR
Parem o vento teimoso
abatam as aves de verão
e façam do mar um imenso deserto de sal.
Sequem as flores e esqueçam os amores
calem os poetas e amordacem os cantores
cortem as mãos aos pintores
proíbam palavras e lamentos
lágrimas e sofrimentos
fechem no armário os brinquedos das crianças
às mulheres cortem as tranças
e aos homens roubem todas as esperanças.
Envenenem a água das fontes e derrubem as pontes
neutralizem gargalhadas
apodreçam a fruta nas árvores
espalhem espinhos no jardim
assassinem os sonhos
afundem barcos
destruam as casas e arruínem os lares
interditem a paixão e o nascer
e deixem os velhos morrer.
Rasguem bandeiras
destruam ideais
aos bailarinos amputem os pés
abafem hinos, crenças e fés
tirem a luz aos pirilampos
semeiem revolta nos campos
apaguem o luar
e esmaguem todas as estrelas do céu
até ficar escuro como breu
assassinem o futuro e
no final
deixem passar a multidão
este povo sem rosto e sem chão
que desliza sem ruído pelas ruas
deste país moribundo
que já nem é deste mundo
e morrerá em menos de um segundo.


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